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Ecomuseu Nega Vilma

1. Apresentação do Ecomuseu Nega Vilma

 

O Ecomuseu Nega Vilma é localizado na comunidade Santa Marta - em Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro. Com aproximadamente 10 000 habitantes, ela representa 12,56% da população de Botafogo concentrada sobre apenas 1,25% da área total do bairro. Favela mais íngreme da cidade, já foi conhecida como uma das mais violentas comunidades do Rio, antes da implantação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora, em 2008.

 

Este projeto surgiu da ideia de preservar a memória de um lugar especial e de disseminar as manifestações sócio-culturais locais, assim como estimular o registro de muitas outras existentes na comunidade.

 

Muito próximo aos limites de ocupação do alto do morro (área de reflorestamento) se encontra o terreiro da mãe de santo Dona Geralda, onde morava sua filha “Nega Vilma” (1943-2006) que representa um resgate das manifestações culturais antes existentes. A construção de um Ecomuseu tem como objetivo dar continuidade a integração que sempre ocorreu nesse espaço, possibilitando o intercâmbio artístico, cultural, social e educativo.

 

O Ecomuseu Nega Vilma configura-se como um espaço memorial para realização de eventos culturais e oficinas regulares de música, artes plásticas com material reciclável, cultura popular e memória local, teatro, fotografia, multimídia, bem como a realização de palestras, cursos e de atividades ecológicas através da preservação da biodiversidade e aproveitamento das riquezas existentes e disponíveis na comunidade e fora dela.

 

O Ecomuseu foi fundado em 2009 e somente em 2013 foi institucionalizado com um CNPJ. O projeto ainda encontra-se em fase de implantação, de afinação da equipe proponente e parceiros. Durante mais de dez anos, o coordenador do projeto vem realizando trabalhos sociais e culturais na comunidade. A partir de um trabalho realizado desde 1998 pelo fotógrafo Marco Terra Nova e pelo seu produtor Ricardo Costa, vem sendo criado um acervo que contém fotos de pessoas que já morreram, imagens que retratam o cotidiano da comunidade Santa Marta com todas as suas dificuldades e belezas. Foram realizadas exposições desse material no evento Foto Rio 2003 dentro da comunidade, na Semana de Humanidades na UCAM em 2006 e no Baukurs Cultural em 2011. Além disso, há uma exposição permanente do acervo no Ecomuseu Nega Vilma composto pelo material citado acima, por obras de artistas locais, peças oriundas das oficinas, bem como de registros audiovisuais.

 

Os museólogos Hugues de Varine, e Georges Henri Rivière foram precursores nos anos setenta em iniciativas de Ecomuseu.  Na visão de Priosti (apud PINHEIRO, p.17), Ecomuseu constitui uma ação ou um conjunto de ações ou um processo museológico promovido por uma comunidade ou pela população como um todo num espaço vivido que assume a preservação consciente e responsável do patrimônio natural e cultural, ou seja, um instrumento usado pela comunidade que o cria para o desenvolvimento local.

 

Riviére (apud BARBUY, 1995, p. 225), propôs uma espécie de fórmula ideal em que os ecomuseus seriam conduzidos pela ação conjunta e solidária de três comitês: o de gestão (administradores municipais ou regionais), o de usuários (membros da comunidade envolvida) e o científico (acadêmicos pertencentes aos quadros de universidades próximas, estudiosos de questões implicados na proposta do ecomuseu).

 

O Ecomuseu Nega Vilma, então, pode definir-se como um espaço de intercâmbio cultural através do patrimônio imaterial formado pelo conhecimento da mata, da cultura artística, da culinária, da história social, religiosa e urbanística do alto da comunidade Santa Marta. Está a serviço do desenvolvimento da comunidade a partir da valorização da história local e do patrimônio nela existente a fim de viabilizar um espaço de troca de experiências através da sensibilização, formação e pesquisa.

 

 

2.        Justificativa

 

 

O Morro Santa Marta, de indiscutível importância no tecido cultural e histórico carioca, abrigava raríssimas referências da memória popular e de tecnologias tradicionais de sobrevivência e de trato com o meio ambiente adverso do século XIX.

 

Para Paulo Freire (apud MAGALHÃES ET ALL, 2005, P. 52), a relação entre cultura e história é marcante no processo de conscientização. Assinala que o homem é sujeito porque é um ser de relações, capaz de refletir, de fazer crítica, de ser consciente de sua historicidade, de optar, de criar e transformar a realidade. A educação deve permitir ao homem “chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história [...] (ibid)”.

 

Ser sujeito implica em autoconhecimento e a proposta de Ecomuseu é uma ferramenta para que a comunidade construa um autoconhecimento coletivo. A ideia é que a comunidade se aproprie de suas memórias para afirmar-se e legitimar seus próprios valores. Sendo assim, o Ecomuseu Nega Vilma pretende ser um instrumento para convocar à ação, por se tratar de um espaço onde a reflexão sobre a memória culmina em iniciativas para intervir nessas histórias e transformá-las. Preservar esse local como um lugar de memória é fundamental para qualquer avanço. É a possibilidade de melhor perceber as mudanças, documentar o velho e viver o novo. Nesses tempos de grandes mudanças na cidade, essa nova possibilidade de transformação do meio urbano por uma população historicamente excluída, é ainda mais importante.

 

A diversidade cultural no Brasil se atualiza de forma dinâmica, a partir da manifestação artística, da preservação de sua memória, da reflexão e da crítica. As políticas públicas de cultura devem adotar medidas, programas e ações para reconhecer, valorizar, proteger e promover essa diversidade. Para tanto, no Plano Nacional de Cultura, foram recomendadas algumas estratégias e ações, tais como: “Realizar programas de reconhecimento, preservação, fomento e difusão do patrimônio e da expressão cultural dos e para os grupos que compõem a sociedade brasileira, especialmente aqueles sujeitos à discriminação e marginalização” (BRASIL, 2012).

 

A relevância do Ecomuseu Nega Vilma consiste em criar estratégias de empoderamento da comunidade e de preservar esse local como um lugar de memória. É fundamental para formação de cidadãos o conhecimento e valorização de suas raízes. Cria-se a possibilidade de perceber melhor as mudanças através do registro de uma época.

 

A preparação do ritual de banho de ervas da Nega Vilma, suas rezas e muitos momentos de sua existência também estão documentados em fotos e vídeo. Através do Ecomuseu pretende-se disseminar essas manifestações socioculturais, assim como estimular o registro de muitas outras existentes na comunidade em questão.

 

O Ecomuseu pretende resgatar técnicas ancestrais de manejo ambiental e dar continuidade a integração que sempre ocorreu nesse espaço, possibilitando o intercâmbio artístico, cultural, social e educativo. Nesse âmbito, algumas atividades são realizadas, como oficinas de música, artes plásticas, rodas de samba, bazar solidário, bem como a pesquisa de acervo. O Ecomuseu recebeu o patrocínio do Ministério da Cultura, através do edital Microprojetos para Territórios de Paz, auxiliando na realização de suas atividades em 2011.

 

Como princípio, segundo (BARBUY, 1995, p.226) ecomuseu foi proposto como instrumento permanente de ligação entre o passado e questões candentes de atualidade social. O Ecomuseu Nega Vilma também se configura como um lugar privilegiado de debate e de discussão construtivas entre os moradores e as esferas de governo. Podemos citar como exemplo a participação recente do Ecomuseu nos eventos e discussões contra a remoção do alto da comunidade proposta pelo Estado; na organização de um debate no dia da consciência negra, bem como na participação em discussão sobre a questão do lixo na comunidade, dentre outras iniciativas. Para tanto, contamos com o importante diálogo e parceria com a Secretaria de Direitos Humanos, com a UPP social e demais entidades presentes na comunidade, além da integração com o IBRAM, Museu da Maré, MUF, UFRJ e UCAM, dentre outros.

      

 

3. Objetivos

 

 

3.1 Objetivo geral:

 

Consolidar o Ecomuseu Nega Vilma para continuidade de ações socioculturais e de atividades ecológicas, bem como a disseminação e registro do patrimônio imaterial local.

 

 

 

3.2 Objetivos Específicos:

 

  • Resgatar e preservar a memória e a cultura da comunidade;

  • Abrigar espaço cultural multimídia, de uso coletivo;                                                                                               

  • Regularizar, documentar, compilar e conservar o acervo do Ecomuseu;

  • Abrir campo de pesquisa;

  • Gerar sustentabilidade;

  • Estimular o encontro dos membros da comunidade;

  • Promover uma preocupação com o meio ambiente;

  • Estimular o protagonismo dos habitantes na construção de um museu voltado para sua cultura.

 

 

4.  Atividades Socioculturais

 

 

As atividades culturais propostas configuram-se em Oficinas de Memória, Música, Arquitetura do Papelão, Contação de História oferecidas no espaço do Ecomuseu Nega Vilma.  Além das oficinas, entende-se como atividade cultural a recuperação e tratamento do acervo videográfico e a criação de uma minibiblioteca permanente, com a função de registrar, editar e disponibilizar para as pessoas a memória de figuras e histórias marcantes na comunidade Santa Marta.

 

A contrapartida dessas atividades é a disponibilização do acervo a partir de pesquisa sobre os costumes locais dentro e fora das oficinas dando origem a artigos acadêmicos e uma exposição permanente.

 

Pretende-se implantar, além das oficinas, atividades culturais regulares, como: apresentações musicais, peças teatrais, exposições, palestras, cursos, rodas de capoeira e atividades ecológicas..

 

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

 

BARBUY, Heloisa. Aconformação dos ecomuseus: elementos para compreensão e análise In: Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.3 p.209.236 jan./dez. 1995.

 

 

BRASIL, Ministério da Cultura. As metas do Plano Nacional de Cultura. São Paulo: Instituto Via Pública; Brasília: MinC, 2012.

 

 

MAGALHÃES, A. G.  et all. A Formação de Professores para a Diversidade na perspectiva de Paulo Freire.  V Colóquio Internacional Paulo Freire: Recife, 2005.

 

 

OLIVEIRA, Edinete Pinheiro. Concepção e Implantação do Ecomuseu da Amazônia: O estudo de suas possibilidades a partir do Distrito de Icoaraci (Paracuri e Orla). Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, da Universidade da Amazônia: Belém, 2009.

 

 


 

Música: Selva Social (Kadão Costa/ Pollyanna Ferrari) 

Gravação: Grupo Fala Brasil

Voz: Pollyanna Ferrari  - Violão: Lucas Tibúrcio - Percussão: Kadão Costa - Flauta: Gabriela Koatz

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