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Quem foi Nega Vilma?

Muito próximo aos limites de ocupação do alto do morro Santa Marta (área de reflorestamento) se encontrava o terreiro da mãe de santo Dona Geralda onde hoje se localiza o Ecomuseu. Nesse local, morou a primeira filha de Geralda mais conhecida como “Nega Vilma” (1943-2006)  que representa um resgate das manifestações culturais antes existentes. 

 

 

 

 

 

 

Um pouco da história de Geralda e Vilma

por Walmir e Rosa Costa

           D. Geralda, filha de escravos, nasceu em Santa Luzia de Carangola, Minas Gerais, em 1932.  No fim do século XIX, após a abolição da escravatura, as famílias de ex-escravos viajavam por todo o Estado trabalhando em fazendas, nas plantações ou em colheitas. Eles andavam o dia inteiro e durante a noite acampavam. Faziam  fogueira,  tocavam   instrumentos como banjo, cavaco, atabaque, viola e pandeiro.   O cachambu  e o  calango  comiam  solto! Anos depois,  Geralda  chegou  no  Rio de Janeiro trazida  por  seu  irmão João para cuidar da casa e dele.  Ela  tinha entre 13 e 14 anos e ele a violou!  Deste ato inconsequente nasceu  Vilma.
        João era pastor de uma igreja evangélica batista. Quando Geralda teve a neném, havia um casal no hospital que se preparava para voltar ao estrangeiro com a criança. João havia vendido o bebê para esse casal. Geralda pegou Vilma nos braços e saiu correndo pelo hospital para se esconder de João e do casal estrangeiro.
        Uma senhora que morava lá no morro a protegeu e a levou para a sua casa e cuidou de Geralda e da neném.  Essa senhora era uma mãe de santo, fato que se integrou de forma quase permanente na vida de Geralda.
          Aos vinte anos, se enamorou por Pedro e dois garotos nasceram dessa relação: Walmir e Waldir (mestre sorriso). O homem desapareceu deixando Geralda com os filhos. Nessa época, ela vivia em um barraco com as três crianças. Em 1960, nasceu Vanuza, filha de Geralda e de Carlos Moura, que também desapareceu em seguida.  Geralda conheceu Juan e desse namoro, em 1962, nasceu Rosângela (Rosa Costa).
            Rosa viu seu pai apenas uma vez quando era criança. Seus parentes marcaram um encontro no morro do Sossêgo, para discutirem com quem Rosa viveria, pois Geralda e seu pai não podiam viver juntos por pressão social e familiar. Neste encontro, Rosa viu um grande homem vestido de terno e gravata, que a pegou no colo, lhe deu pirulito, chorou  e depois foi embora.
            Depois chegou Severino, mais conhecido como  “Veinho”. Dessa união, nasceram Roberto, Valfredo e  Vanilza. Geralda teve oito filhos.
            Em suas remotas lembranças, as imagens escorrem como água saindo da torneira. Os filhos de Geralda lamentam não ter nenhuma foto de sua mãe, porque ela era realmente uma mulher inteligente, bonita, com maneiras delicadas e com educação de menina do interior de Minas.
            Em sua casa tinha um terreiro de Candomblé. Era no interior da casa que se passavam os rituais. Nos dias de roda, os adeptos se preparavam de jeito minucioso com banhos de ervas, defumadores. Durante vários dias antes do ritual, eles se privavam de comer certos tipos de alimento, como carne, para estarem limpos para fazer descer os espíritos.
            Durante todo o dia havia uma febrilidade que pairava sobre a favela, um ar de festa que se preparava. As cerimônias se passavam sempre à noite e as crianças não podiam fazer parte do evento. Rosa se escondia dentro do guarda roupa e olhava aterrorizada e maravilhada ao mesmo tempo o desenvolvimento da cerimônia.
          Uma dessas vezes em que Rosa se escondeu, a roda já estava pronta. Havia um grande círculo com desenhos simbólicos no chão, feitos com giz e carvão. Havia também os alguidares (pratos de barro) com a comida para os espíritos; ao lado, tinham charutos, velas, garrafas de cachaça. As mulheres estavam com suas saias brancas rendadas e rodadas até os pés descalços, cheias de colares e pulseiras de cores diversas indicando a que a entidade pertenciam e os homens com as calças dobradas até os tornozelos e com camisas brancas amplas. A entonação dos cantos e os tambores começavam a soar lentamente e todos se punham em roda. O som dos tambores ia crescendo e as vozes iam sendo ajudadas pelos claps das mãos.
       Ao final dos anos cinquenta, época em que Carlos Lacerda era governador do Rio de Janeiro, mudanças radicais ocorreram na cidade.  Promoveram remoções de algumas favelas como Macedo Sobrinho, Morro do Querosene, Morro da Quaresma, Morro do Sossêgo. Os moradores foram levados para as regiões menos visíveis aos olhos dos burgueses e da classe média do Rio de Janeiro.
         Essa remoção teve como consequência a criação da Villa Kennedy, da Cidade de Deus, etc. As familias desalojadas eram transportadas, querendo ou não, para essas novas habitações. Geralda morava no Morro do Sossêgo e recusou-se a ser transportada. Contra sua vontade, demoliu ela mesma seu barraco, pôs seus pertences em um caminhão e foi para o Santa Marta, onde já havia vivido antes.
         A comunidade Santa Marta era um terreno privado que pertencia ao padre Hélio, filho de dona Marta. Como dona Marta possuia esse imenso terreno, Geralda não poderia ser removida. Foi, então, para o pico do morro e escolheu um lote que batizou de Cidade Nova. Nessa época, tinha três filhos.
       Dona Geralda foi uma grande líder! Rezadeira, parteira, mãe de santo, e, entre todos os serviços que  prestou a essa comunidade, foi também mãe de leite. Amamentou uma  grande parte das  crianças  nascidas neste lugar. Louvada seja dona  Geralda!!

O Banho de Ervas

 

A preparação do ritual de banho de ervas da Nega Vilma, suas rezas e muitos momentos de sua existência também estão documentados em fotos e vídeo. Através do Ecomuseu pretende-se disseminar essas manifestações socioculturais, assim como estimular o registro de muitas outras existentes na comunidade em questão.

O Ecomuseu pretende resgatar técnicas ancestrais de manejo ambiental e dar continuidade a integração que sempre ocorreu nesse espaço, possibilitando o intercâmbio artístico, cultural, social e educativo. 

 

Nega Vilma

Música: Selva Social (Kadão Costa/ Pollyanna Ferrari) 

Gravação: Grupo Fala Brasil

Voz: Pollyanna Ferrari  - Violão: Lucas Tibúrcio - Percussão: Kadão Costa - Flauta: Gabriela Koatz

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